Tornado na Lagoa de Albufeira em 02 de maio de 2012

Entre 1 a 5, uma depressão do tipo “gota fria”, quase estacionária, centrada no Atlântico a oeste do Porto, originou algumas situações de precipitação forte, vento forte e com rajadas fortes, tendo sido reportado, em vários locais, alguns casos de derrube de árvores, destelhamentos, etc. No dia 2, foi observado e confirmado, a ocorrência de um tornado na Lagoa de Albufeira.

No início do mês de maio, de  1 a 5,  uma depressão do tipo “gota fria”, pouco cavada (1000 hPa),  quase estacionária,  estendendo-se aos níveis médios e altos da troposfera quase verticalmente, centrou-se no Atlântico a oeste do Porto, aproximadamente, ficando o território do Continente situado no bordo leste da depressão – a região mais ativa da depressão (Figura 1 a).

Neste período, ocorreram algumas situações de precipitação forte, vento forte e com rajadas fortes, tendo sido reportado, em vários locais, alguns casos de derrube de árvores, destelhamentos, etc. No dia 2, foi observado (e confirmada a ocorrência de) um tornado na Lagoa de Albufeira, a cerca de uns 15 km a noroeste de Sesimbra.
Às 12 UTC, a região sudoeste de Portugal continental era uma região instável, com valores da energia disponível para a convecção (CAPE) superiores a 100 J/kg, apresentando o valor mais elevado na região litoral a norte de Sines (linha amarela na Figura 1 a).

 

RGB_massa_ar_2012050212_PNMM_Z500

(a)

TPW_2012050212

(b)

TetaSW 2012050212

(c)

Figura 1 (a) ePort 02/05/2012 às 12 UTC com Imagem RGB Massa de Ar do satélite Meteosat de Segunda Geração e previsão de 12 horas de Geopotencial aos 500 hPa (damgp), Pressão ao nível médio do mar (hPa) e CAPE (J/ kg) do modelo do ECMWF.
Análise modelo ECMWF 02/05/2012 às 12UTC de (b) Total de água precipitável (mm) e (c ) Temperatura potencial do termómetro molhado (TetaSW) aos 850 hPa (ºC, cores).

Em volta da depressão, e em especial no bordo leste, desenvolveram-se linhas de instabilidade que frequentemente atingiram o território do Continente. Numa dessas linhas de instabilidade, na manhã do dia 2, e no seio de uma massa de ar das latitudes médias, Teta SW de 10 ºC (cor verde Figura 1 c), com valores da água precipitável superior a 20 mm (Figura 1 b), desenvolveu-se um aglomerado convectivo que o radar Doppler de Coruche/Cruz do Leão identificou (C/CL) como uma supercélula. Esta supercélula foi observada no campo da refletividade (Figura 2) e no da velocidade Doppler (Figura 3) sobre a região onde ocorreu o tornado (imagens das 10:56 UTC, 11:56 horas locais).

 

PPI(Z)- 201205021056

Figura 2 – Imagem de PPI(Z) de 0.1 º, indicador de posição plana da refletividade, (dBZ) do radar C/CL

 

Na imagem de radar do campo da velocidade Doppler (Figura 3),  as setas a preto identificam a circulação no mesociclone integrado na estrutura nebulosa da SC (supercélula)  que originou o tornado. Os pixeis a laranja identificam movimento de afastamento do radar – de nordeste para sudoeste -, enquanto os pixeis a verde identificam movimento em aproximação ao radar – de sudoeste para nordeste.

 

PPI(V) 201205021056

Figura 3 – Imagem de PPI(V) de 0.1 º, indicador de posição plana da velocidade Doppler, (m/s) do radar C/C

 

Em virtude da pouca expressividade da circulação mesociclónica neste caso particular, o padrão que é visível no campo da reflectividade não é muito típico destas formas de convecção organizada. Este facto exemplifica a dificuldade em prever tornados, além de que, apenas, uma reduzida percentagem de supercélulas produzem tornados.

Esta estrutura penetrou em terra pela região do Cabo Espichel, às 10:40 UTC,  deslocando-se no sentido sudoeste nordeste,  afetando a área da Lagoa de Albufeira pelas 10:50 UTC, passando sobre a cidade do Barreiro pelas 11:20 UTC e continuando a sua progressão, tendo mantido a caraterística supercelular até cerca das 11:50 UTC, instante em que se encontrava um pouco a Este de V. F. Xira.

De acordo com os danos causados em árvores e em propriedades (como vedações, viaturas e estruturas amovíveis), poder-se-á ter tratado de um tornado categorizável no nível EF0 ou (quando muito) EF1, segundo a escala de Fujita melhorada.