Tornado em Oliveirinha (Aveiro) -15 Abril 2016 - 08:40 UTC

 

Enquadramento sinóptico

A circulação de uma depressão complexa com núcleo principal a norte dos Açores com 1000 hPa 48N 28W às 06UTC que tem expressão até aos níveis mais elevados da troposfera, e com um núcleo secundário à superfície com 1004 hPa em 40N 12W, dá origem a um fluxo de sudoeste, numa massa de ar com tetasw de 13 º C.

Os campos do geopotencial, temperatura e vento aos diversos níveis, mostram um forte fluxo quente de sudoeste que se encontra-se desde a superfície aos níveis mais altos da troposfera, onde está associado à corrente de jato, com elevado teor em água precipitável (valores máximos superiores a 25 mm) numa região de instabilidade e forte advecção de vorticidade entre os níveis 850 e 500 hPa.

Na imagem de satélite RGB massa de ar.das 06UTC observa-se numa linha organizada de nebulosidade com desenvolvimento vertical que se forma neste ambiente e que se encontra sobre o local onde ocorreu o tornado. Esta linha também se identifica por apresentar forte convergência de humidade na baixa troposfera e movimentos verticais ascendentes, que são localizados nos níveis baixos até 700hPa e mais fortes ao nível dos 500 hPa, em que os valores dos índices de instabilidade são pouco importantes (CAPE inferior a 300 J/kg) mas os valores dos índices de convecção profunda são significativos.

O Tefigrama previsto para as 09 UTC no local onde ocorreu o tornado, mostra a tropopausa alta, a cerca de 9000 metros de altitude, e a massa de ar muito húmida, quase saturada, em toda a troposfera. Destaca-se o shear do vento, e um ligeiro veering do vento. O valor de CAPE é residual numa massa de ar potencialmente instável.

 

 

 

 

 

 

fig2.jpg

 

fig4.jpg

 

 

Un55.jpg

 

 

 

Observação radar

A imagem de PPI (indicador de posição plana, elevação de 0.0°) da velocidade em relação à tempestade, às 08:36 UTC do radar de Arouca, mostra um vórtice de rotação observado a 1200 metros de altitude, que é assinalado indicando o dipolo de rotação com movimento de sentido ciclónico e o local assinalado com X, onde ocorreu o tornado.

O estudo das outras imagens de observação radar sugerem que esta circulação não estava associada a uma supercélula.

 

Tornado em Oliveirinha

A partir da informação recolhida nos órgãos de comunicação social e da informação prestada pela Autoridade Nacional de Proteção Civil, em particular no contacto com Mauro Martins, dos Bombeiros Velhos de Aveiro, que prestou assistência no local e disponibilizou as fotografias que se apresentam, é possível concluir que o tornado ocorreu cerca das 8:40 UTC, com trajeto estimado em 300 a 400 metros, de sudoeste para nordeste, em linha reta, causando danos nos telhados e anexos de 2 moradias em Oliveirinha, conselho de Aveiro.

O tornado tocou o solo depois do cruzamento dos 5 Caminhos, sendo o rasto visível no terreno pelas ervas com flores tombadas para nordeste, no sentido da trajetória e da projeção dos destroços, em direção à autoestrada A17, num terreno inclinado a descer. Passou por cima de 2 casas: na casa mais antiga levantou a chapas metálicas de cobertura do anexo em cimento e partiu a viga do cume; na outra casa, recente e de boa construção, houve menos danos.

As vigas metálicas (treliças) de suporte do telhado ficaram rachadas. As vigas foram dobradas, levantando e partindo o cimento, que descolou do tijolo. As chapas metálicas de cobertura ficaram dobradas e partidas. Partiu uma chaminé, arrancou uma antena, levantou telhas de cerâmica do telhado da casa, partiu ramos de árvores.

Uma estrutura de ferro de um portão foi projetada a 50 metros, as chapas foram projetadas a 100 metros, ficando presas na rede da vedação da autoestrada, o que corresponde aos últimos vestígios desta ocorrência.

O remoinho não foi visto.

Os danos causados permitem estimar a intensidade F0 /T1.

casa.jpg

homem.jpg

grupo.jpg

grupo_2.jpg

grupo_3.jpg

Agradeço:

a informação e as fotografias disponibilizadas por Mauro Martins, dos Bombeiros Velhos de Aveiro

a colaboração de Paulo Pinto no estudo das imagens de radar.