Rastos de condensação provenientes de motores dos aviões

A expressão "rasto de condensação" deriva do inglês contrail, o termo resulta da junção das palavras condensation e trail. Quando os aviões se deslocam em níveis elevados da troposfera (acima de 6000 m de altitude) observa-se frequentemente a formação de um rasto de nuvens com um aspecto fino e filamentoso observáveis a partir da superfície e de imagens de satélite.

O termo rastos químicos ou chemtrails em Inglês é associado a rastos de agentes químicos ou biológicos libertados deliberadamente por aviões clandestinos para fins não revelados ao público. Não existe, no entanto, evidência científica para esta teoria e, consequentemente, o termo não é reconhecido pela comunidade científica visto não corresponder a nenhum fenómeno meteorológico. O termo contrail, pelo contrário, é amplamente aceite.

A formação de contrails ocorre devido à emissão de ar quente e húmido, pelos motores dos aviões, que condensa em contacto com o ar ambiente da alta troposfera frio e húmido. Em certas condições atmosféricas os contrails podem persistir durante várias horas. Se estas condições forem favoráveis ao crescimento de cristais de gelo estes contrails persistentes podem crescer e espalhar-se formando cirros.

Nas últimas décadas, com o aumento considerável do tráfico aéreo aumentou também a quantidade destas nuvens fabricadas pelo homem. Alguns investigadores sustentam mesmo (Haywood et al., 2009) que o impacto do aumento da quantidade de contrails persistentes no balanço radiativo global, e consequentemente no aquecimento global, é superior ao impacto das emisões de CO2 devidos a toda a industria aeronáutica. (IPCC 1999; Sausen et al., 2005; Lee et al., 2009).

Os contrails podem ser observados em imagens de satélite, nomeadamente nas imagens do satélite geostacionário europeu (MSG), que capta imagens do disco terrestre a cada 15 minutos em 12 canais espectrais (visível e infravermelho). Estas imagens são recebidas e processadas pelo IPMA. Nas figuras seguintes apresentam-se exemplos de detecção deste tipo de nuvens no dia 10/05/2014 com vários canais ou combinações de canais do satélite MSG.

A Figura 1 foi obtida a partir do canal visível de alta resolução às 18:00 UTC, apesar de ser possível detectar estas nuvens finas e filamentosas sobre a Península Ibérica a azul, a sua identificação é facilitada pelo recurso a compósitos de vários canais. De facto, a Figura 2, que corresponde a uma imagem gerada com a combinação dos canais na banda do infravermelho 8.7, 10.8, e 12.0µm do satélite MSG, às 18:00UTC (dia), permite a fácil identificação destas nuvens como finos filamentos a azul escuro. Analogamente a Figura 3, gerada pela combinação dos canais 3.9, 10.8, e 12.0 µm do mesmo satélite, e que corresponde ao mesmo dia, mas a um instante durante a noite, às 21:00UTC, permite também a identificação destas nuvens a azul escuro, sendo que este compósito é aplicável para o período de ausência da luz solar.

HRV 	2014-05-10	18:00UTC

Figura 1- Imagem obtida com canal de alta resolução na banda do visível (HRV) do satélite MSG, imagem correspondente a 2014-05-10 às 18:00UTC. Alguns contrails são visíveis a azul sobre a Península Ibérica e no Atlântico adjacente.

 

Met10 RGB-Dust 	2014-05-10	18:00UTC

Figura 2 – Compósito de imagens obtida a partir dos canais da banda do infravermelho 8.7, 10.8 e 12.0µm do satélite MSG, correspondente a 2014-05-10 às 18:00 UTC. Os contrails são visíveis sobre a Península Ibérica e no Atlântico adjacente sob a forma de riscas finas a azul escuro.

 

 

 

Figura 3 – Compósito de imagens obtida a partir dos canais da banda do infravermelho 3.9, 10.8 e 12.0µm do satélite MSG, correspondente a 2014-05-10 às 21:00 UTC. Os contrails são visíveis sobre a Península Ibérica e no Atlântico adjacente sob a forma de riscas finas a azul escuro.

 

Bibliografia

 

Haywood, J. M., R. P. Allan, J. Bornemann, P. M. Forster, P. N. Francis, S. Milton, G. Radel, A. Rap, K. P. Shine, and R. Thorpe (2009), A case study of the radiative forcing of persistent contrails evolving into contrail-induced cirros, J. Geophys. Res., 114, D24201, doi:10.1029/2009JD012650.

Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) (1999), Special Report on Aviation and the Global Atmosphere, edited by J. E. Penner et al., Cambridge Univ. Press, Cambridge, U. K. Intergovernmental Panel on Climate Change

Lee, D. S., D. W. Fahey, P. M. Forster, P. J. Newton, L. L. Lim, B. Owen, and R. Sausen (2009), Aviation and global climate change in the 21st century, Atmos. Environ., 43, 3520– 3537.

Sausen, R., et al. (2005), Aviation radiative forcing in 2000: An update on IPCC (1999), Meteorol. Z., 14, 555– 561, doi:10.1127/0941-2948/2005/0049