Instabilidade em ar quente e seco: Downburst em Rio Maior, 20 agosto 2011

Em Rio Maior, pelas 20:20 horas (19:20 UTC) de 20 de agosto de 2011, registaram-se rajadas de vento muito forte, causando alguns estragos, associadas a um fenómeno convectivo designado por Downburst.

Instabilidade em ar quente e seco: Downburst em Rio Maior

Instabilidade atmosférica no seio de uma massa de ar quente e seco originou rajadas de vento forte, aguaceiros dispersos e trovoada.
Em Rio Maior, pelas 20:20 horas (19:20 UTC) registaram-se rajadas de vento muito forte, causando alguns estragos, associadas a um fenómeno convectivo designado por Downburst “fenómeno de vento muito forte, descendente e divergente, na base de um aglomerado convectivo, produzido por uma ou mais nuvens de tempestade (tipo cumulonimbo”).

Situação Meteorológica

No dia 20 de agosto às 12 UTC, Portugal Continental estava sob a influência de um fluxo de sul e de ar muito quente e seco – Ar Tropical Continental. A oeste de Portugal Continental localizava-se um vale depressionário nos níveis médios e altos da troposfera e, inserida nesse vale, uma depressão a sudoeste do território que, à superfície se centrava na proximidade de Sagres com uma pressão de cerca de 1011 hPa (Figura 1). Este sistema depressionário aproximou-se do Continente durante a tarde e noite,  transportando ar húmido, vindo  alterar as condições de estabilidade no território.

 

20110820_Carta_Z500_TETA850 20110820_Carta_TETA850
(a) (b)

Figura 1 -Análise ECMWF 2011081200UTC:
a) Geopotencial (damgp)/ Temp (ºC)/Vento (kt) aos 500 hPa.
b)  TetaSW aos 850 hPa (ºC) e pn.m.m  (hPa)

 

O perfil vertical da atmosfera previsto pelo modelo de previsão do ECMWF, para as 18UTC, na região de Rio Maior (Santarém), Figura 2(a), mostrava uma atmosfera húmida a partir dos 700hPa (3000 metros aproximadamente) e instável com um Cape (energia disponível para a convecção) de 721J/kg. Verificava-se, também, que havia shear de vento (mudança de direção e/ou intensidade) com rotação de nordeste /leste (nos níveis baixos) para sul/sudoeste no nível dos 800 hPa (2000 metros, aproximadamente).
Estas condições de instabilidade – existência de uma camada baixa seca e estável e uma camada superior húmida e instável e com shear do vento, são propícias ao desenvolvimento de células convectivas e à ocorrência de Downburst.

Indicador desta situação são as nuvens observadas neste dia, na Figueira da Foz (Figura 2 b). Estas fotos mostram uma célula convectiva de grande dimensão (super célula) onde se desenvolveram nuvens convectivas do tipo Mamatus.

Nas imagens de radar da Figura 2 c, e de satélite Figura 2d,  identificam-se células convectivas que terão estado associadas á ocorrência de vento forte, na sequência de fenómenos convectivos do tipo Downburst.

A imagem de radar ( Figura 2 c) mostra o padrão horizontal da velocidade Doppler, PPI (Plane Position Indicator PPI – Corresponde à projecção horizontal da observação do radar numa superfície cilíndrica definida pelo varrimento do radar  a uma dada elevação da antena)  e no canto inferior direito,  uma imagem sobreposta, representa o corte vertical efectuado numa região um pouco a sul de Rio Maior (seta no canto superior esquerdo da imagem).
O padrão horizontal da velocidade Doppler e o corte vertical, apontam para um fenómeno do tipo downburst, em progressão pelas 19:26 UTC. Os valores observados para a componente radial, da ordem de 25m/s (90 km/h), estima-se que o valor do vento máximo ocorrido junto ao solo se possa ter situado acima de 100km/h.

Na imagem de satélite, Figura 2d,  é possível identificar  uma das células convetivas de relativa pequena dimensão que, aquela hora, se formaram no litoral Centro e,  ainda, células convetivas sobre oceano, mais próximas da depressão com expressão em altitude que afetava o Continente. Também em Espanha, a norte de Madrid, se identificava um sistema convetivo com maior dimensão do que a dos referidos sobre o continente e o Atlântico. A análise da imagem de satélite sugere uma génese diferente para este último sistema convetivo.

 

 

 

 

20110820_TEF_Santarem

 

 

(a)

20110820_Foto2

20110820_Foto1

(b)

20110820_radar

(c)

20110820_Satelite

(d)

Figura 2 a)  Santarém, Perfil Vertical do ECMWF-20110820 1800 UTC, H+6 (b)Figueira da Foz , 20110820 1700 UTC,
Mamatus da Célula convectiva
c) Imagem de Radar de 20110820 1925UTC (PPI), Padrão Horizontal da Velocidade Doppler e corte sobre
a região de Rio Maior.
(d) Imagem de satélite Tipo de Nuvens da SAF Nowcasting 201108201915 UTC.