Instabilidade em ar Quente e Húmido: Vento Forte e Precipitação Forte no Alto Minho, 21 agosto de 2011

A situação meteorológica de forte instabilidade atmosférica do dia 21 de agosto de 2011, em Portugal Continental, atingiu particularmente a região do Alto Minho, nomeadamente algumas freguesias do concelho de arcos de Valdevez e em Celorico de Basto, onde houve um caso mortal, causado pela queda de um palco que não resistiu ao vento forte.

Forte instabilidade atmosférica no dia 21 de agosto de 2011, em Portugal continental, atingiu particularmente a região do Alto Minho.
As fotografias abaixo são esclarecedoras da situação de mau tempo no dia 21 de agosto em vários locais do Alto Minho, nomeadamente em algumas freguesias do concelho de arcos de Valdevez e em Celorico de Basto, onde houve um caso mortal, causado pela queda de um palco que não resistiu ao vento forte.

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Situação Meteorológica de 21 agosto de 2011

Às 18UTC do dia 21 de agosto um núcleo depressionário com cerca de 1010 hPa centrava-se no noroeste de Portugal Continental (Figura 1). Em altitude (geopotencial aos 500 hPa, linhas a verde) a depressão centrava-se na vertical de Lisboa e, na maioria do território, havia condições favoráveis ao cavamento de depressões e à convecção – máximo de adveção de vorticidade positiva aos 300 hPa (linhas amarelo).

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Figura 1 – Imagem de satélite RGB Massa_de_Ar 201108211800 PNMM (preto, hPa), 500 hPa (verde, damgp), adveção de vorticidade positiva aos 500 hPa (10-9 s-2, amarelo).

 

Os perfis verticais da atmosfera previstos (H+15) e (H+18) pelo modelo previsão numérica do ECMWF (Centro Europeu de Previsão do Tempo) para Braga, Figura 2 (a), às 15 UTC e às 18 UTC (não apresentado), mostravam uma atmosfera instável, com shear do vento (mudança de direção e/ou intensidade) na camada baixa (até aos 900 hPa » 1000 m), uma atmosfera próxima da saturação desde níveis baixos e com valores elevados do conteúdo em água (água precipitável), TPW = 40,2 mm.. Valores elevados de Cape (energia disponível para a convecção), de 1302J/kg e de LI = -4,9ºC (Lifted Index é a diferença da temperatura aos 500 hPa entre a partícula de ar ascendente e o ambiente) eram indicadores da forte instabilidade na região.

A imagem de satélite das 18UTC, Figura 2(b), mostrava uma densa camada de nuvens, que se estendia desde o Minho até à Beira Baixa, inseridas numa linha de células convetivas em deslocamento de sudoeste para nordeste. Esta linha, separando uma zona de ar seco de outra de ar húmido assemelha-se ao modelo de squall line  ou linha de borrasca (linha de células convectivas ativas e organizadas, podendo apresentar-se contínua ou segmentada; a linha apresenta uma relação comprimento-largura menor do que nas frentes frias clássicas) em avanço para nordeste. Na imagem podem visualizar-se a branco, bandas de nuvens espessas com estruturas convectivas e topos frios (cumulonimbus). As estruturas a amarelo indicam nuvens baixas. Uma outra linha organizada de convecção estendia-se em Espanha, desde a Galiza à Andaluzia A este tipo de fenómeno meteorológico está associado tempo severo: precipitação forte, granizo, trovoada, vento forte e inclusive Downbust e tornados.

 

 

 

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Figura 2 -(a) Braga, Perfil Vertical do ECMWF-20110820 1800 UTC, H+15.(b) Imagem satélite (imagem combinada dos canais IR10. 8 e HRV) 201108211800UTC