Alex, furacão atípico

 

Alex foi um furacão que se formou às 06UTC do dia 15 de janeiro sobre o Atlântico, partir de uma tempestade subtropical, a 35.5ºN de latitude e 27.3ºW de longitude, a cerca de 355km a sul da ilha Terceira e a 365km  a su-sueste da ilha do Faial, no grupo Central dos Açores.

A 10  de janeiro de 2016, podia inferir-se a partir do modelo do ECMWF uma depressão bastante cavada sobre o Atlântico, centrada a aproximadamente  a 35ºN55ºW, e à qual estava associada uma massa de ar equatorial modificado/tropical húmido. Esta estava por sua vez associada a uma onda de pequeno comprimento nos níveis altos, relativamente quente e moderadamente baroclínica (conforme figuras abaixo do ECMWF: campo TetaSw aos 850hPa/Pn.m.m, e do geopotencial, vento e temperatura ao nível dos 500hPa. Nesta data, o NHC (Centro de furacões de Miami) iniciou o seguimento desta depressão e associou-lhe uma probabilidade de 10% de se transformar em depressão subtropical, e posteriormente elevou essa probabilidade para 40%. O seu deslocamento era para leste/sueste inserido numa corrente zonal de oeste, comum nesta altura do ano sobre o  Atlântico Norte.

Habitualmente, a época dos ciclones tropicais no oceano Atlântico vai de maio a outubro, embora o período possa iniciar-se mais cedo e prolongar-se até mais tarde. Normalmente, sobre o Atlântico os ciclones formam-se no referido período, sobre as águas quentes a oeste de Cabo Verde e resultam de uma onda de leste nos ventos alísios, e que se desloca para oeste.

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Foi iniciado o seu seguimento pelo NHC como tempestade subtropical de nome Alex, a 13 de janeiro pelas 21UTC, data em que foi emitido o primeiro comunicado, atendendo à existência de uma crescente organização nebulosa, aparente dissipação dos processos baroclínicos  e núcleo relativamente quente em níveis altos. Às 21UTC e de acordo com o NHC, destacam-se as seguintes características da tempestade Alex:

–          localização: 27.1N,30.8W

–          pressão no centro: 990hpa

–          vento médio máximo: 85km/h

–          rajadas: superiores em 10 a 25% ao vento máximo

–          deslocamento: 55º/22km/h

No dia 13 de janeiro as imagens de satélite evidenciavam bandas de nebulosidade organizadas, com curvatura ciclónica em torno do referido sistema de baixas pressões.  Dados do ASCAT evidenciavam um aumento da intensidade do vento, com vento de aproximadamente 45kt.

Um ciclone subtropical, é um sistema de baixas pressões que se forma em latitudes tropicais ou subtropicais (entre o equador e os 50º de latitude), que possui características de ciclone tropical e de ciclone extratropical. Desta forma, estão envolvidos processos baroclínicos, ainda que de forma moderada, embora uma considerável porção da energia envolvida seja proveniente e de um eficiente transporte vertical de entalpia e humidade resultante da convecção profunda organizada. Habitualmente, este tipo de sistemas possui uma raio alargado de vento médio máximo até 100/200km do centro, bem superior ao raio característico dos ciclones puramente “tropicais” e possuí campos assimétricos do vento e da convecção em torno do “olho”.

Há semelhança da classificação dos ciclones tropicais, com base nos valores do vento médio máximo à superfície (média de 1 minuto), valores superiores a 34kt e inferiores a 64kt, dão origem à denominação de tempestade subtropical, tal como foi dado inicialmente ao Alex pelo NHC. Muitas das depressões/tempestade subtropicais transformam-se em ciclones tropicais, eventualmente com a categoria de furacão, facto que aconteceu com o Alex.

Ao contrário das depressões extratropicais, que possuem os ventos intensos perto da tropopausa, os ciclones tropicais possuem os ventos mais elevados à superfície, e um núcleo quente que se estende em altitude, na troposfera e até à tropopausa, apresentando um campo divergente na estratosfera.

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No dia 14, as imagens de satélite, evidenciavam uma organização crescente da estrutura nebulosa convectiva do Alex e podia identificar-se um “olho” embebido, característico dos furacões. De acordo com o NHC, eram identificáveis bandas nebulosas com temperatura de topo entre –50º/-60ºC, e a estimativa do vento passou para 60kt, ainda que com alguma incerteza. Nesta fase, os modelos de previsão indicavam que a tempestade Alex, estava associada a uma depressão que se estendia até aos níveis altos, não sendo clara a existência de um campo divergente em altitude característico dos ciclones tropicais. No entanto, as imagens do WV pareciam, de certa forma, sugerir o desenvolvimento deste “outflow”, ainda que incipiente.

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Dia 15 de janeiro às 06UTC, a tempestade subtropical Alex foi elevada à classificação de furacão (NHC):

–          localização: 35.5N,27.3W

–          pressão no centro: 984hPa

–          vento médio máximo: 130km/h

–          rajadas: superiores em 10 a 25% ao vento máximo

–          deslocamento: 10º/35km/h

na sua trajectória iria afectar as ilhas dos grupos Central e Oriental dos Açores, tendo sido emitido um aviso de furacão (vento médio máximo>64kt(119kmh)) para as ilhas do grupo Central e uma aviso de tempestade tropical (62km/h<vento médio máximo<118km/h) para o grupo Oriental.

Às 09UTC de dia 15 e à medida que se aproximava dos Açores, o NHC denotava um ligeiro enfraquecimento do Alex:

–          localização: 36.8N,27.0W

–          pressão no centro: 986hPa

–          vento médio máximo: 120km/h

–          rajadas: superiores em 10 a 25% do vento máximo

–          deslocamento: 5º/37km/h

Previa-se que na sua trajectória para norte, o Alex, passasse sobre as ilhas do grupo Central, e que posteriormente houvesse um ligeiro desvio para noroeste. No seu trajecto, e  em contacto com temperaturas da água do mar mais baixas(da ordem aproximada de 16ºC), o Alex deveria perder gradualmente as suas características tropicais e passar a depressão post-tropical/extratropical.

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Alex foi a 4ª tempestade tropical/subtropical que se formou em janeiro desde que há registos (1851), e a 1ª que se formou em janeiro à qual foi atribuído nome.

Neste contexto, foi emitido pelo IPMA, aviso vermelho de vento, precipitação, e agitação marítima nas ilhas dos grupos Central e Oriental. No entanto, os valores da precipitação e do vento previstos ficaram aquém do previsto, tendo sido observados os seguintes valores do vento nos aeródromos das ilhas dos grupos Central e Oriental:

Horta: 26kt vento médio; rajada máxima 39kt.

Santa Maria: vento médio 36kt; rajada máxima 48kt.

Ponta Delgada: vento médio 36kt; rajada máxima 50kt.

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